30 de janeiro de 2011

Eu e Carmen Sandiego em Brasília

Eu e Carmen Sandiego, no Ibirapuera, em dias mais calmos.
Eu ia dizer que eram dias mais normais, mas esses óculos não me deixam mentir desse jeito.

A minha vida, por vezes, fica absurda demais.  O acontecimento jacú dessa vez foi suficiente pra me fazer reabrir o blog (aeaeaeaeaeae!!!).

Então, vamos começar do comecinho, né? Eu vim pra Brasília passar uma semana de luxo, glamour e sofisticação no STJ, fazendo parte do programa de Visitação Técnica. Uma semana inteirinha passeando pelo tribunal, tendo palestras, atazanando os ministros, vendo os processos... pois eu sou uma dos 30 estudantes selecionados entre 1090 inscritos nessa edição (acaba por aqui a auto-adulação, juro. Mas depois dessa história eu mereço!)

Ok, em algum lugar perdido nos cafundós da internet eu descobri que dava pra entrar com bicicletas no metrô em Brasília. Como tudo é longe e eu não dirijo (alugar carro = impossível) além de estar falida (tchau taxi!), meus olhinhos brilharam com a possibilidade de ir do metrô até o STJ a bordo da Carmen Sandiego, minha bicicleta vermelha que viaja o mundo o país, por enquanto. Quando eu descobri que a webjet transportava bicicletas assim... de graça, com carinho, praticamente levando no colo e chamando de xuxu, eu dei pulinhos de alegria. Meu plano mirabolante para Brasília estava montado! Como vocês já devem ter percebido, todas as minhas viagens têm um plano mirabolante, e ele geralmente resulta em dor, tristeza e sofrimento. Foi diferente dessa vez? Não, afinal a minha vida é uma novela mexicana!

Ok, saí de casa em SP em direção ao ponto do ônibus que levava pro aeroporto, alegre e faceira na Carmen Sandiego com uma mochila nas costas e a bolsa na cestinha. A uma quadra do ponto de ônibus, subindo a rampinha da calçada, o pedal direito fez crec. E foi um pouquinho pro lado. Assim, o suficiente pra assustar e a Carmen dar uma dançadinha, mas eu ignorei. Dei um chutinho, encaixei o pedal devolta e beleza. Chegando no aeroporto, a moça do check-in da Webjet despachou a minha bicicleta com a maior cara de "quem é essa louca avacalhando o meu dia" com facilidade e calma. Até aí, o dia seguia tranquilo.

Daí chegamos em Brasília. Peguei a bicicleta devolta e o freio fazia barulho. Puxa, que chato, freio pegando na roda... abri a bolsinha de ferramentas e puxa daqui, puxa dali, nada mudava. O freio iria cantando até a casa do meu tio, então. Aí eu descobri que a única forma de chegar do aeroporto até o metrô com Carmen seria... pedalando, né! Nadando que não seria! Montei na bicicleta com as mochilas e me preparei para os 6km e pouco até o metrô no sol assassino clima agradável do dia.

Aí chega a parte divertida: lá estava eu, na rodovia, a uns 25km/h (hiper velocidade na Carmen cheia de peso - o primeiro que insinuar que o excesso de peso é adiposo leva um tapa), chegando numa subidinha... quando de repente, ao ficar de pé, CREC, o pedal direito quebra de vez.

Vamos fazer uma pausa e aproveitar para um brinde ao inventor dos acostamentos. Acostamentos, essas coisas tão subestimadas na vida da gente, com nomes tão divertidos, onde as pessoas geralmente param para atender celular, fazer xixi, esticar as pernas situações de emergência!

Eu só não virei patê nessa hora por estar indo pelo acostamento, porque Carmen assumiu uma belíssima trajetória nesse momento, que por crítícos de dança talvez pudesse ser descrita como desesperada e raivosa, mas em termos técnicos seria chamada desgovernada, mesmo.

Beleza, eu estava viva, com uma bicicleta quase inteira, no meio da rodovia, com a tim me avacalhando (oi tim, te detesto), e ainda bem longe do metrô.

Várias pessoas se desesperariam nesse momento, mas não eu. Mesmo meu nome sendo Simone e não Joseph Climber, fui arrastando a bicicleta pelos kms restantes, parando duas vezes na sombra de árvores na beira da estrada pra comer nectarinas (o que me trazia lembranças bastante esquisitas da época do grupo escoteiro). Cheguei na casa da minha tia tão queimada de sol e tão cheia de poeira vermelha que eu poderia ter vindo de Marte e não de São Paulo.

Hoje meu tio me levou numa bicicletaria pra trocar o pedal e dar tchau a 20 reais que eu nem precisava mesmo e eu aproveitei pra perguntar dos freios pegando na roda. Resposta do carinha da bicicletaria: "Não é o freio que tá pegando na roda... a roda que tá pegando no freio! Ela tá toda torta! Aliás, a de trás também...." Então, um espacinho pra agradecer a Webjet por ter sambado e dançado conga em cima da minha bicicleta no avião. Não vou mandar revisar tudo isso porque... daqui a uma semana eu volto e ela passaria por outro porão de avião, o que ia mandar mais 45 reais pra passear junto com aqueles 20 do pedal, e eu sou meio ciumenta com dinheiro.

No fim das contas, tudo acabou bem, e a viagem estava com a maior cara de que ia seguir normal. Até umas horinhas atrás quando eu percebi que Brasília e Palmas, no Tocantins, ficam pertinho (muita calma antes de me xingar, meus padrões de PERTO são levemente bizarros). Aí eu planejei uma road trip pra visitar um casal de amigos que se mudou pra lá. Aí eu convidei uma amiga pra ir junto e ela topou na hora. Aí o namorado comentou que a Chapada dos Veadeiros fica na metade do caminho e é tudo de legal que existe no mundo. Lembra lá em cima quando eu disse que toda viagem minha precisa ser bizarra? Então... aguardem!