27 de abril de 2011

... e eu nunca mais voltei

Esse mar lindo é em Donostia.
E essa não sou mais eu.

A Carol Nogueira postou agora pouco um texto que me fez pensar um pouquinho.

A primeira vez que eu viajei sozinha para procurar meu lugar no mundo foi há quase dez anos. Eu fui e nunca mais voltei. Voltei, claro, mas não era mais eu. 
Eu não voltei de Bayonne. Eu não sou mais a mesma pessoa de dois anos atrás. É muito mais do que "em 2009 eu era diferente", é simplesmente que aquela Simone não existe.

São tantas diferenças que eu não sei como enumerar, ou por onde começar. Eu continuo sendo mais educada e piso mais em ovos com as pessoas do que necessário. Mas, mesmo que pareça incompatível, eu imponho mais limites. Eu discuto. Eu brigo. Eu vou lá e faço e ai de você se ficar no meu caminho tentando me incomodar.

Eu ainda caio no choro conversando com o Leandro sobre as minhas inseguranças e as minhas dúvidas sobre o futuro. Mas ainda assim eu faço o que eu acho que devo. Eu crio coisas novas, eu dou minha opinião, eu tento mudar algumas coisas. Eu não tenho mais medo de fazer papel de ridícula. Eu talvez agora tenha orgulho de fazer papel de ridícula às vezes. Eu faço piadinhas inadequadas, me apresento pra pessoas aleatórias, puxo conversa com estranhos, aceito todos os convites pra tomar cerveja que são propostos, faço apostas idiotas só pra dar risada. Eu sou definitivamente ridícula, mas talvez seja isso que me leve pra frente. Se levar tão a sério nunca fez bem pra ninguém, muito menos pra mim.

Eu não sou quem eu era 2 anos atrás, antes de viajar. Eu também não sou aquela Simone morando em Bayonne, no apartamento minúsculo, viajando sozinha, pegando carona na estrada, nadando na fonte da WIPO, dormindo em aeroportos.

Mas não faço idéia de como explicar quem eu sou agora. Como é que eu classifico? Oi, meu nome é Simone, tenho 24 anos, um pouco mais pálida do que deveria, com uns meios quilos acima do que queria ter, tenho 4 gatos e uma irmã? Oi, meu nome é Simone, moro em São Paulo com meu namorado mas volto toda semana pra Curitiba, adoro tricotar, andar de bicicleta e ler? Oi, meu nome é Simone, estou (aos trancos e barrancos) acabando o curso de Direito, semi-desempregada, fazendo iniciação científica, escrevendo uns textos e artigos de propriedade intelectual, sendo dona de casa, ainda que péssima nisso, e recusei ontem uma proposta de emprego? Oi, meu nome é Simone...

e o seu?

4 comentários:

caso.me.esqueçam disse...

cabei de ler o blog da carol, oh... e agora esse post. pois bem, eu nao tenho tempo de refletir agora quem sou. alias, o que me tornei. alias, o que deixei de ser. alias...

quando eu penso nisso, eu tenho dor de cabeça. eh resposta demais! eh luci demais! lucis.

liber disse...

Eu sou o Liber.

Esse é o nome que está na certidão de nascimento, na declaração de imposto de renda e na carteira de motorista.

Esse é o nome que estará na lápide.

Um nome.

E as pessoas mudam. Você parece ter mudado um bocado só olhando pela foto.

Eu mudei um bocado também. Todo mundo muda. Mas tem aquelas coisinhas que permanecem as mesmas. Aquelas coisinhas que nos definem.

Se você assistiu o Segredo de Seus Olhos, vai lembrar: "una persona no pode cambiar sua passion".

E tem aquele videoclipe do Cuarteto de Nos: http://www.youtube.com/watch?v=ykOlfoRFr_Y&feature=fvst (Gosto muito).

Acho que essa coisa da identidade é fascinante porque não conseguimos nunca nos ver.

Também acho nunca estamos completamente satisfeitos com o que somos. Eu acho.

Acho que a gente muda sim, mas nunca o suficiente. Porque a gente não se dá conta da mudança, ela vem devagar, de mansinho, não parece novidade, passa a fazer parte do cotidiano, do normal.

Quando a gente vê uma foto antiga ou quando a gente topa com algum texto escrito tempos atrás é que a se dá conta do quanto mudou. E aquela pessoa de antes parece uma estranha.

Mas, na minha humilde opinião, a gente nunca muda o suficiente. Tem coisas que a gente não concorda e nunca vai concordar. Nunca vai aceitar. É o que nos define, mais do que o nome da lápide.

Ir embora e nunca mais voltar é uma ideia que aparece de vez em quando e é muito tentadora.

Um dia quem sabe...

liber disse...

Ih, desculpa!
Me empolguei!

arq.ana disse...

Oi, meu nome é Ana.
E eu decidi voltar aqui porque sinto saudades, e talvez pudesse saber uma pouco mais sobre o que tem se passado com você.

Na época em que li este texto eu não sabia me descrever, e percebi que hoje sei menos ainda!
Talvez eu volte ano que vem.
Sabendo a resposta... ou não.