30 de abril de 2010

pra que terminar o que se começa, mesmo?

hoje foi aniversario da alo (sim, ela se chama alo), e depois da festa eu e a nath ficamos mais uma hora e meia sentadas na escada da residencia, passando frio e conversando da vida inteira. conversa essa ótima, considerando que nenhuma das duas é normal. aliás, a nath muito deveria começar um blog só pra escrever as histórias dela, começando pelo fato de que ela estudou aaaaaaaaaanos com mr jesus-da-madonna. se isso não é suficiente pra render situações geniais eu realmente não faço idéia do que seja necessário. 

confirmando que nós não somos normais: poderíamos muito bem ter ido pra casa de qualquer uma das duas, mas nãããão, ficamos na escada vendo a mesa de ping pong pegar chuva e assistindo uma briga sem sentido no prédio da frente. brigas de casais bêbados já são engraçadas de presenciar, mas melhor ainda quando estão do outro lado do estacionamento e gritando em francês. tudo o que dava pra entender era um "oh putaaaaaaaain" aqui ou lá. 

a conversa foi interrompida só porque já é dia (quase 8 da manhã), e é melhor dormir enquanto ainda não faz calor demais. anteontem fez 36 graus aqui, ainda na primavera. quando eu cheguei aqui eu acreditava que os franceses todos eram naturalmente loucos. depois, formulei a teoria que deve ser algo que colocam na água (não sobra um normal,juro! todos os meus amigos aqui são ótimos, mas completamente enlouquecidos). agora, acho que deve ser o clima. até agora pouco estava nevando e agora aqui estou eu me preocupando com biquinis. nada faz sentido!

voltei pra casa e pensei em escrever, mas daí vi o numero bizarro de rascunhos salvos no blog, sem publicar. o post de ontem foi fruto de um deles, já . aí seguem mais alguns!

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It is that flat and spectral non-hour, awash in limbic tides, brainstem stirring fitfully, flashing inappropriate reptilian demands for sex, food, sedation, all of the above, and none really an option now…
- "pattern recognition", william gibson

(esse trecho do começo do livro me vem à cabeça em todas as voltas de viagens)
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Nasci ruiva e cresci loira. Aprendi a ler muito antes do que devia, e estendi essa precocidade bizarra pra outras áreas que não trouxeram alegria. Fiz Bellas Artes. Fui bailarina. Fui a melhor e a pior aluna, em ciclos aleatórios. Fui estranha. Fui criativa. Fugi, por falta de alternativa e resposta, e ao voltar, descobri que nada era mais o mesmo.

Aliás, nada muda. Parece que a vida é um looping jacú de cenas, pessoas e lugares. Curitiba, então, é o melhor lugar pra ficar tropeçando no passado, visto a natureza de ervilha dessa cidade. Todo mundo se conhece, todo mundo te conhece e todos frequentam os mesmos locais. Dá vontade de se afogar num balde.
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parece uma piada ruim: uma loira, um bêbado e um paraplégico estavam na rodoviária de florianópolis às 4 da manhã. mas não, não era.

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"I certainly haven't been shopping for any new shoes
-And-
I certainly haven't been spreading myself around
I still only travel by foot and by foot, it's a slow climb,
But I'm good at being uncomfortable, so
I can't stop changing all the time"
 
Fiona Apple sempre cantando aquilo que eu não consigo dizer...

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eu não acho que eu regule muito bem das idéias, ainda mais em relação a prioridades e noção. eu vou ao supermercado comprar comida e volto só com chantilly e esmaltes. começo um livro só pra parar no meio e passar semanas pesquisando um assunto secundário que encontrei nele. quando meu namorado foi a new york, ao invés de pedir um ipod, victoria secrets ou um perfume eu pedi... um livro do william gibson que estaria sendo lançado naquela semana, e eu queria desesperadamente ler. e ele traz. e ele me deixa ler que nem uma viciada mesmo antes de grudar nele com saudades pela viagem. senhoras e senhores, encontramos o namorado mais paciente do mundo!

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passou o primeiro de abril e eu esqueci, não enganei ninguém! tô fazendo tantas-mil-coisas que nem deu tempo de lembrar. e como tudo mais o que eu faço, esse texto não vai ter nem foco nem uma linha muito clara de raciocínio.

aliás, foco é algo que muito me recomendam hoje em dia. escutei da minha chefe que eu tenho muita iniciativa, mas que me falta foco pra acabar as coisas. escutei também do leônidas que eu preciso de foco pra não me desesperar com a vida.

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tanto me falta foco que eu não acabei nenhum desses textos. e ainda existem tantos outros...

metal heart




o vídeo não tem nada a ver com nada, é só pelo fato de eu estar viciadíssima em cat power. apaixonei por chan, não tem mais volta

29 de abril de 2010

será que a receita funciona com yakult também?



eu li "o mundo de sofia" na quarta série. só esse fato seria suficiente pra me garantir alguns anos de análise, não pelo livro em si, mas pela criaturinha bizarra que eu era naquela época.

digamos que eu não era uma criança lá muito comum. minha família não é das mais normais, nossa rotina é bastante peculiar. isso é praticamente andar pelo colégio com uma placa de "oi, sou um saco de pancadas". e considerando que eu estudei da terceira até a sétima série num colégio ótimo onde, infelizmente o bullying era endêmico, eu não tive lá momentos muito fáceis. e dá-lhe mais alguns anos de análise.

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se eu pudesse, me acorrentava no farol de biarritz pra não voltar mais. não porque aqui seja melhor, ou qualquer coisa piegas relacionada ao lugar, mas porque eu gosto muito da pessoa que eu me tornei aqui.

tem gente que não gostou muito dessas mudanças, infelizmente. o que você faz quando alguém olha pra você e diz algo nas linhas de "antes a gente dizia algo e você sempre dava um jeito de nos agradar, mas agora você fica dando opinião e se impõe e a gente não gosta disso"? oi? no meu caso, fiz o seguinte: volte pra casa, encontre os amigos, faça uma festa, aproveite a neve, faça outra festa, aproveite a primavera e assim por diante. keep changing and carry on.

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não dá pra agradar todo mundo, e eu nem tento mais. agradar a mim mesma já me ocupa uma parcela de tempo suficiente. e, convenhamos, se eu não agradava quando pequena, não é agora que vou conseguir, né?

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aliás, uma receita ótima que vi no twitter: misture uma dose de Johnny Walker e dois copinhos de activia num copo alto com gelo e mexa. Pronto, você tem um refrescante "Cagando e andando".

17 de abril de 2010

from Richard Yates' Revolutionary Road

from Richard Yates' Revolutionary Road:

“You felt that life was passing you by?”

“Sort of. I still had this idea that there was a whole world of marvelous golden people somewhere, as far ahead of me as the seniors at school when I was in sixth grade; people who knew everything instinctively, who made their lives work out the way they wanted without even trying, who never had to make the best of a bad job because it never occurred to them to do anything less than perfectly the first time. Sort of heroic super-people, all of them beautiful and witty and calm and kind, and I always imagined that when I did find them I’d suddenly know that I belonged among them, that I was one of them, that I’d been meant to be one of them all along, and everything in meantime had been a mistake; and they’d know it too. I’d be like the ugly duckling among the swans.”

“I think I know that feeling,” he said.

“I doubt it.” She didn’t look at him, and the little lines had appeared again around her mouth. “At least I hope you don’t, for your sake. It’s a thing I wouldn’t wish on anybody. It’s the most stupid, ruinous kind of self-deception there is, and it gets you into nothing but trouble.”"

8 de abril de 2010

indo e voltando

eu tenho falado pra renata que a vida aqui muda a cada duas semanas. é como se fosse agendado, a cada duas semanas tudo muda, a gente se vê andando com pessoas diferentes, com rotinas bizarras, com situações inesperadas. e a cada duas semanas mais ou menos a gente conversa e acaba vendo o quanto a gente mudou.

hoje eu tive um dia bem ruim, formalmente falando. recebi a notícia que o escritório de imigração perdeu pela segunda vez os meus documentos, o que me deixa teoricamente em situação irregular na frança. sem titre de sejour eu não consigo o auxilio moradia, e sem auxilio moradia eu estou falida. a responsável da faculdade me assegurou que vai conversar com o escritório amanhã, mas foi o suficiente pra me deixar bastante tensa.

em condições normais de temperatura e pressão (ou seja, no brasil ainda, ano passado), numa situação tensa dessas, eu provavelmente passaria o fim de semana um pouco chateada e o leandro me colocaria pra cima. como ele sempre faz: ia me encher de beijos, argumentar que a situação não está tão ruim, mostrar que tudo tem saída e depois me deixar escolher um sorvete ou destruir a cozinha dele fazendo alguma sobremesa. e tudo ia ficar bem, porque ele estava lá comigo. eu sempre resolvi meus problemas, mas precisava ser acalmada antes. (ansiedade, oi?)

só que no momento ele está no trabalho, do outro lado do atlântico e com cinco horas de diferença. o que eu fiz? peguei a bicicleta e saí por aí. sem rumo mesmo, pedalando pra onde tivesse alguma ciclovia, com raiva. pedalando rápido até cansar e gastar toda a raiva e frustração.

daí na volta, quando eu já estava calma, eu encontro a renata correndo. e volto pra casa andando com ela, e conversando devolta sobre o quanto a gente muda estando aqui. eu continuo querendo colo no fim do dia, mas agora eu engulo o choro e sigo em frente. e volto pra casa pra contar pra ele depois tudo, que o dia estava ruim, que agora está melhor mas que mesmo assim ele faz falta. mas está tudo bem, porque ele vai estar lá quando eu voltar.